Mitos e fatos sobre adoçantes de baixas calorias e sem calorias

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Os edulcorantes existem desde meados da década de 1840, passando a ser estudados desde então. Apesar de contar com um corpo robusto de evidências apoiando sua segurança e eficácia, ainda existe muita desinformação a respeito dessas substâncias.

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A má interpretação dos estudos, entre outros fatores, contribui para gerar desconfiança entre consumidores e potenciais consumidores, afetando a sua aceitação. Por outro lado, os adoçantes de baixas calorias e sem calorias (ABSC) e os edulcorantes, que são sua matéria-prima, constituem ferramentas importantes para enfrentar os desafios de sociedades com taxas crescentes de obesidade e diabetes. Portanto, combater mitos, com informações baseadas em evidência, ajuda a esclarecer sobre os benefícios potenciais dos ABSC e permite que os consumidores façam melhores escolhas alimentares.

1) Adoçantes de baixas calorias e sem calorias são seguros para consumo

FATO

Os edulcorantes passam por uma avaliação de segurança extensa e rigorosa antes de serem confirmados como substâncias seguras para consumo humano e aprovados para uso. Essas avaliações são realizadas por várias autoridades de saúde em todo o mundo, como o Comitê misto da FAO / OMS conhecido como JECFA (Joint Expert Committee on Food Additives), a Food and Drug Administration dos Estados Unidos (FDA) e a Autoridade de Segurança de Alimentos Europeia (European Food Safety Authority - EFSA), além das autoridades de saúde locais de cada nação, que fazem suas avaliações independentes antes de aprovar uma substância para uso alimentar, prezando sempre pela saúde da população.

Os edulcorantes são aprovados para consumo respeitando uma IDA – Ingestão Diária Aceitável, que é individual para cada substância. IDA é uma medida conservadora da quantidade de uma substância específica usada em alimentos ou bebidas que pode ser ingerida diariamente ao longo de toda a vida sem um risco apreciável para a saúde. A IDA é expressa em miligramas da substância por quilograma de peso corporal por dia.

Desta forma, todos os edulcorantes aprovados são seguros, e devem ser consumidos dentro de sua respectiva IDA. Por causa de seu intenso poder adoçante, várias centenas a vários milhares de vezes mais doce que o açúcar, os edulcorantes e os ABSC podem ser usados em quantidades muito pequenas e, portanto, é improvável que excedam o valor da IDA, especialmente de maneira consistente ao longo de toda a vida.

2) Consumir adoçantes de origem natural é melhor para a saúde em comparação aos adoçantes artificiais

MITO

maioria das pessoas prefere os alimentos e os ingredientes naturais aos artificiais e, mais recentemente, a tendência do consumidor em buscar alternativas naturais parece ter alcançado novos patamares. No entanto, é preciso ser claro: só porque algo é natural não significa que seja necessariamente melhor que algo que não é, haja vista o fato de que várias autoridades regulatórias ao redor do mundo aprovaram o uso de edulcorantes tanto naturais como artificiais, considerando-os igualmente seguros.

Todos os alimentos, ingredientes e aditivos alimentares, sejam naturais ou artificiais, consistem basicamente em compostos químicos. A vitamina C, por exemplo, que é um nutriente essencial, é também um composto que quimicamente recebe o nome de ácido ascórbico. Quando usado como antioxidante em alimentos e bebidas é classificado como um aditivo alimentar. Ao conceder uma aprovação, os reguladores asseguram que os alimentos, ingredientes ou aditivos alimentares, tanto naturais como artificiais, sejam empregados de maneira segura.

3) Adoçantes de baixas calorias e sem calorias são úteis no controle da resposta glicêmica e do diabetes

FATO

Gerenciar a resposta glicêmica é um benefício bem estabelecido dos ABSC, conforme evidenciado por pesquisas científicas. A EFSA, organismo europeu que muitos países utilizam como referência ao desenvolver sua política alimentar, publicou uma opinião positiva sobre os benefícios dos ABSC para o controle glicêmico

. Os ABSC são recomendados por associações profissionais especializadas em todo o mundo, como a American Diabetes Association e a World Health Organization, em substituição ao açúcar e para ajudar pessoas com diabetes a controlar sua ingestão de carboidratos e os níveis de glicose no sangue³.

4) Adoçantes de baixas calorias e sem calorias podem causar ganho de peso

MITO

O corpo de evidências científicas disponível mostra que o uso de ABSC pode, na realidade, ser uma ferramenta dietética útil para promover um peso corporal saudável. Como os ABSC não fornecem, ou fornecem muito poucas calorias, eles podem ajudar a controlar o peso corporal, graças à redução significativa na ingestão calórica que podem proporcionar quando são usados para substituir o açúcar. Metanálises mostram que o uso de ABSC favorece a redução do índice de massa corporal, gordura corporal e circunferência da cintura 2,4, 5.

5) O melhor ABSC depende da preferência individual

FATO

Fato. A escolha de um ABSC deve levar em consideração as preferências individuais relacionadas ao sabor das diferentes alternativas disponíveis no mercado e aspectos de conveniência (forma de apresentação, embalagem, etc.), juntamente com o desempenho em diferentes receitas, entre outros aspectos. Uma ótima dica é experimentar diferentes tipos de ABSC até que você possa identificar qual deles é mais adequado para você.


Por Dra. Leila Hashimoto

Nutricionista com doutorado em Ciência dos Alimentos pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP). Dra. Leila Hashimoto tem 10 anos de experiência em pesquisa laboratorial, incluindo participação em projetos sobre diabetes e genômica nutricional. É palestrante, consultora científica e autora de publicações científicas.

Referências:

1. EFSA Panel on Dietetic Products, Nutrition, and Allergies (NDA); Scientific Opinion on the substantiation of health claims related to intense sweeteners and contribution to the maintenance or achievement of a normal body weight (ID 1136, 1444, 4299), reduction of post‐prandial glycaemic responses (ID 4298), maintenance of normal blood glucose concentrations (ID 1221, 4298), and maintenance of tooth mineralisation by decreasing tooth demineralisation (ID 1134, 1167, 1283) pursuant to Article 13(1) of Regulation (EC) No 1924/2006. EFSA Journal 2011; 9(6):2229. [26 pp.].
2. Miller PE, Perez V. Low-calorie sweeteners and body weight and composition: a meta-analysis of randomized controlled trials and prospective cohort studies. Am J Clin Nutr. 2014 Sep;100(3):765-77. doi: 10.3945/ajcn.113.082826. Epub 2014 Jun 18. PMID: 24944060; PMCID: PMC4135487.
3. Nichol AD, Holle MJ, An R. Glycemic impact of non-nutritive sweeteners: a systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials. Eur J Clin Nutr 2018; 72: 796-804.
4. Rogers PJ, Hogenkamp PS, de Graaf C, et al. Does low-energy sweetener consumption affect energy intake and body weight? A systematic review, including meta-analyses, of the evidence from human and animal studies. Int J Obes (Lond) 2016; 40: 381-94.
5. Laviada-Molina H, Molina-Segui F, Pérez-Gaxiola G, Cuello-García C, Arjona-Villicaña R, Espinosa-Marrón A, Martinez-Portilla RJ. Effects of nonnutritive sweeteners on body weight and BMI in diverse clinical contexts: Systematic review and meta-analysis. Obes Rev. 2020 Jul;21(7):e13020.